Ojó Aikú é o primeiro “domingo” do Calendário Iorubá, o que abre o Mês, para os próximos 6 “domingos” do Mês e os demais dias. Segundo ficou revelado pelo Odù OTURUPON TURÁ. Podemos notar como este dia é muito importante, é o primeiro do calendário, pois Ojó Aikú, que traduzido significa, o Dia da Imortalidade, faz menção à Vitória da Vida sobre a Morte. É o dia de se festejar a Imortalidade, qualidade perene de Olodumaré que presenteou à sua Criação. Faz menção a alguns Itán de Ifá, entre outros, um do Odù OYEKÚ: a cada 4 dias (uma semana iorubá), Ikú munida de seu Opá Ikú (bastão de morte) chegava à Ilé Ifé e matava indiscriminadamente quantos cidadãos quisesse. Ninguém podia com Ikú, nem os Orixás. Desta forma Ilé ifé estava perplexa e horrorizada, não existia mais garantias para a Vida diante da Morte. Até que Ameyegun (um cidadão de Ilé Ifé) intrépido como era, foi ter com Orunmilá, propondo-se a enfrentar Ikú (a Morte). Orunmilá, muito admirado da coragem de Ameyegun consultou-lhe o Ifá, e lhe prescreveu entre outros ebós (sacrifícios rituais) que criasse uma roupa que o cobrisse inteiro (inclusive, e, principalmente, a cabeça), deveria ser rica em fitas e adereços, e ter todas as cores da Vida. Deveria todos de sua família vestirem roupas semelhantes. Assim o fez Ameyegun. E, no dia em que Ikú voltou à Ilé Ifé para matar mais, se surpreendeu com a recepção daqueles mascarados que pulavam de um lado para o outro o perseguindo. Ikú ficou atemorizado! Fugiu sem olhar para trás, e nesse pânico, deixou cair o Opá Ikú. Que foi recolhido por Ameyegun e presenteado por gratidão à Orunmilá. Ao receber o presente Orunmilá decretou que, daquele dia em diante, deveria Ameyegun e todos os seus familiares, assim como os seus descendentes, cultuarem os mortos em honra à Vitória da Vida sobre a Morte. Portanto é o dia de lembrar e honrar os nossos Ancestrais, aqueles que nos concederam a Vida, que abriram os Caminhos para que pudéssemos chegar ao Mundo e caminhar sobre ele, continuando e perpetuando a Vida.
Morte Física: Um Novo Princípio
Pois a Morte não é o fim, senão apenas um novo recomeço. Em nossa cultura Iorubá, baseada em reencarnação (atunwá) e imortalidade da Alma (èémí – sopro vivificador de Olorun) o Culto à Ancestralidade é o Ponto Máximo, partindo-se de que o primeiro ancestral da Criação é o próprio Olorun, depois os Orixás, e então Bàbá Èsá (Patriarcas Ancestrais – os primeiros Seres humanos ) que deram início à Humanidade. A morte é apenas a perda do Ará (corpo físico) e de Ojiji (nossa sombra), entretanto Ori (cabeça/ser) continua vivo, ainda munido de Èémí (Alma), que parte temporariamente para o Òrun Isalú (retiro celestial), onde se encontra com a sua Ancestralidade, e presta contas a Olorun de seu atos em Vida, para então meditar e se preparar para outro retorno ao Isalú Aiyé (Mundo manifesto), na forma do filho de seus descendentes: “Bàbátundé” (o Pai retorna) e continuar sua Missão de Transcendência. Desta forma, repetindo o Caminho do sol, que nasce no Oriente, desaparece da vista no Poente, mas continua vivo mesmo longe dos olhos durante a noite, para então retornar mais uma vez vitorioso no Oriente, para recomeçar novo dia.
Esquecimento: a Morte Nefasta
Cultuar os nossos ancestrais é tal como a árvore que busca suas raízes para se alimentar, pois: “um rio que não lembra sua fonte, seca.” E assim somos nós, se não lembrarmo-nos de nossos Ancestrais morreremos, pois eles são a nossa Fonte de Vida e a Raiz de nossa Identidade. O Esquecimento é a Morte de nossos Ancestrais aqui no Aiyé, como também a nossa morte. Por isso Ojó Aikú é tão importante, pois é o “Dia de Lembrar”, de reviver, de honrar e “se lembrar de onde viemos, quem somos e o que viemos fazer”!
Neste 02 de Novembro, façamos o nosso “Festival Èégún/Èsá” particular e coletivo, relembremos os nossos antepassados, contemos suas histórias, façamos um “Ipadé” (encontro) entre os vivos e os mortos. Comamos o Pão da vida, o Axé de nossos Ancestrais. Axé!
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Gil Bello, é Consultor esotérico e Sacerdote dos Cultos Lesse-Orixá , Lesse-Ifá e Astrólogo Védico. Para maiores informações: gilbello@gilbello.com
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