7.1.09
ORUNMILÁ - IFÁ , O ESPÍRITO DA SABEDORIA
Para o pensamento iorubá a vida é uma jornada, uma grande aventura. E é aqui na terra o melhor lugar do mundo para se viver. Tanto isso é verdade que quando um ente querido morre, diz-se "Wa ati bo" (Vá e volte logo). Essa e outras sabedorias sobre o mundo e a vida são parte do conhecimento transmitido oralmente pelos sacerdotes de Ifá, os Babalawo, ou Pais do Segredo. O conhecimento do Babalawo está contido nos poemas, um compêndio de centenas de milhares de histórias míticas que são relembradas e entoadas em forma de cânticos pelos sacerdotes de Ifá. O cliente ao ouvir determinada passagem que alude ao problema que está vivendo interrompe o sacerdote que passa então a explorar as possíveis maneiras de auxiliá-lo. Isso pode ser feito por meio de oferendas rituais ou através do uso de plantas medicinais para ingestão na forma de chás ou de poções ou ainda em banhos ou sachês. O Babalawo pode também sugerir mudanças de comportamento do indivíduo. Para tornar-se um sacerdote de Ifá, um Babalawo, é necessário um aprendizado iniciático que tem início na infância -- ao redor dos 4 anos de idade -- e que jamais terá fim. Em geral, o aprendiz estará apto a atender após um mínimo de 16 anos de estudos constantes.
Qual a diferença entre os nomes Orunmilá e Ifá?
Ifá é o nome que Olodumaré, o Deus Criador, deu para Orunmilá enquanto divindade manifestada no mundo. Ifá é o Oráculo, o sistema divinatório composto de diversos métodos. Os mais conhecidos são o Opele, o Ikin e o Merindilogun ou jogo de búzios. Orunmilá é a divindade e Ifá é o sistema onde esta divindade se manifesta. Não há Ifá sem Orunmilá e nem Orunmilá sem Ifá. Estes dois conceitos são tão intimamente relacionados que muitas vezes referimo-nos a Orunmilá como Ifá.
E quem é Orunmilá?
Orunmilá é a divindade da sabedoria e do conhecimento, responsável pela transmissão das orientações dos deuses e de nossos ancestrais, de maneira a permitir a cada um de nós a possibilidade de uma escolha acertada para uma vida feliz. Orunmilá, a Testemunha do Destino e da Criação. O segundo após Olodumaré. Aquele que estava presente, ao lado de Deus, quando a Vida, o Mundo, o Homem foi criado. Orunmilá tudo vê, tudo sabe, tudo conhece. Não há nada que tenha sido criado ou que virá a ser criado que Orunmilá não saiba antes. Orunmilá conhece a vida e conhece a morte, ele conhece a existência: o antes e o depois. Por isso ele pode ajudar. Guia, profeta, professor, divindade, Orunmilá/Ifá deve ser compreendido como um sistema: é o homem e sua ferramenta. Por vezes o homem é a sua própria ferramenta. Orunmilá é tanto humano quanto espírito. Enviado por Olodumaré para ir a diferentes lugares sempre que há necessidade para ajudar os homens a enfrentarem seus problemas, contornando obstáculos e desenvolvendo o seu bom caráter. Podemos também imaginar Orunmilá como o espírito de Olodumaré manifestado no homem. Alguns dizem que a palavra Orunmilá deriva de Oro-Omo-Ela ou Oro= palavra/espírito, Omo= filho, Ela= Deus. Após a Criação, Orunmilá veio à Terra como a divindade encarregada por Olodumaré para ensinar os homens. Esta mensagem é Ifá, a luz, o conhecimento e a orientação da sabedoria ancestral de toda a humanidade.
(O Trabalho)
Ogun, “O Poderoso do mundo”, é um dos Orixás mais populares e amados na cultura iorubá. Orixá do calor, da força e da energia, é o dono do trabalho, porque possui todas as ferramentas como seus símbolos.
Agricultor por excelência, desenvolveu a tecnologia a serviço do homem.
Seu metal é o ferro. Ele transforma o ferro para criar as ferramentas necessárias para o trabalho do homem. Com a foice ele abriu os primeiros caminhos para o resto do mundo. Com a faca ele abre orifícios na face humana e faz surgir os olhos. Com o ancinho ele arou terras e plantou, com a tesoura cortou peles e inventou os abrigos. Com o machado cortou árvores para construir abrigos, com o martelo e pregos pôde unir os troncos. Com a cunha pode levantar grandes pesos. E assim aconteceu de Ogun, com a espada que forjou, guerrear e conquistar territórios para seu povo. Ele, no entanto, não quis ser rei, pois preferia os desafios ao poder. Continuou lutando e inventando para sempre. Onde existir trabalho e tecnologia estará Ogun.
Ogun é também compreendido como o orixá da guerra, no sentido de luta por transformação e novas conquistas. Ogun nunca se cansa de lutar, costuma-se chamar por sua ajuda em situações em que é extremamente difícil continuar lutando ou quando o inimigo é extremamente forte.
Ogun representa proteção, cortando com sua espada toda má influência, afastando de nós os nossos perseguidores e inimigos materiais ou espirituais.
(A Ação)
Exú, "o indulgente filho de Deus cuja grandeza está em toda a parte", o que quer dizer, aquele que se mostra favoravelmente disposto na apreciação do trabalho dos outros, capaz de desculpar ou perdoar, e que está em todo lugar, pois Ele é movimento e transformação.
Um de seus símbolos é o caracol, cuja espiral representa a constante evolução.
Exú é o pré-existente à ordem do mundo. Ele se transforma sem parar, mas não uniformemente, como é a própria vida. Onde há caos ele traz a ordem e onde a ordem ele promove o caos. Por ser o próprio dinamismo, é quem faz, com seus paradoxos, as coisas manterem-se vivas, mantendo o equilíbrio das trocas, provocando o conflito para promover a síntese. Tudo que se une, multiplica-se, separa-se, transforma-se, tudo é Exú, personificação do principio da transformação. Ele está associado ao nascente e ao futuro.
(O Aprimoramento)
E, finalmente, temos para 2009 a energia de Oxaguiã.
Oxaguiã é o Orixá do dinamismo e movimento construtivo, da cultura material. Seu domínio são as lutas diárias por sustento e trabalho e a paz. Oxaguiã incentiva o trabalho e a superação. Oxaguiã é o provedor, é o guerreiro da paz. Nunca entra numa batalha para perder, sempre ganhando suas lutas e superando quaisquer obstáculos.
É sempre retratado como um guerreiro forte, astuto e conquistador, Oxaguiã rege as inovações, a busca pelo aprimoramento, o inconformismo. É um Orixá relacionado com o sustento do dia a dia, gostando de mesa farta. Seu sustento vem do fundo da terra ou da floresta. Ele detém todas as armas e as usa para alcançar seus objetivos.
Diz-se que enquanto Ogun fornece meios (ferramentas e armas) Oxaguiã fornece inteligência e vontade para vencer. Representa o início de um movimento.
Com estas três fontes de energia, podemos dizer que 2009 será um ano de muito movimento, muita transformação através do trabalho. O homem e a sociedade estarão em evidência.
2009
MOVIMENTO, TRABALHO, RECONTRUÇÃO, MUDANÇA, VITÓRIA.
Um ano de mudanças profundas em todos os setores das atividades humanas, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de novos meios de produção, novas invenções, com tecnologia efetivamente a serviço da sociedade.
É um ano favorável para investir em novas carreiras, novos projetos, desde que focados em objetivos altruístas, examinando e reestruturando nossos valores.
Ogun nos proporciona força, determinação e habilidade para nos concentrarmos no trabalho árduo que será necessário para fazer as mudanças que nos permitirão deixar para trás o modelo de vida fracassado: o consumismo ilimitado, a desenfreada ganância e avareza, que provocam permanentes conflitos na sociedade.
Ogun nunca se acomoda. Está sempre lutando por transformações e
consegue grandes vitórias.
Três histórias envolvendo estes Orixás ajudam a refletir sobre a postura que devemos tomar para viver este ano com sabedoria.
OXAGUIÃ GANHA UMA CABEÇA
Oxaguiã, também conhecido como Ajagunã, é o conflito que antecede a paz; a revolução que antecede as transformações profundas; a instabilidade necessária ao dinamismo da vida e da sociedade e a busca do conhecimento. Ele é também guerreiro, e sente prazer em destruir para que o novo se estabeleça.
Um dos mitos diz que Oxaguiã nasceu apenas de Obatalá. Não teve mãe. Nasceu dentro de uma concha de caramujo. E quando nasceu, não tinha cabeça, por isso perambulava pelo mundo, sem sentido.
Um dia encontrou Ori (a cabeça humana) numa estrada e este lhe deu uma cabeça feita de inhame pilado, branca. Apesar de feliz com sua cabeça. Ela esquentava muito, e quando esquentava Oxaguiã criava mais conflitos. E sofria muito. Foi quando um dia encontrou Iku, a morte, que lhe ofereceu uma cabeça fria. Apesar do medo que sentia, o calor era insuportável, e ele acabou aceitando a cabeça preta que a morte lhe deu. Mas essa cabeça era dolorida e fria demais. Oxaguiã ficou triste, porque a morte com sua frieza estava o tempo todo acompanhando o orixá. Foi então que Ogun apareceu e deu sua espada para Oxaguiã, que espantou Iku. Ogun também tentou arrancar a cabeça preta de cima da cabeça de inhame, mas tanto apertou que as duas se fundiram e Oxaguiã ficou com a cabeça azul, agora equilibrada e sem problemas.
A partir deste dia ele e Ogun andam juntos transformando o mundo. Oxaguiã depositando o conflito de idéias e valores que mudam o mundo e Ogun fornecendo os meios para a transformação, seja a tecnologia ou a guerra. Oxaguiã promove o progresso. Não gosta de ver ninguém parado.
AJAGUNÃ DESTRÓI PALÁCIOS
Oxaguiã-Ajagunã, o filho guerreiro de Oxalá, andava junto com Ogun fazendo a guerra. Onde Ogun destruía uma cidade, Ajagunã construía outra maior e mais próspera. Conquistavam para seu povo todos os campos de inhame e todas as riquezas em ouro e escravos.
O jovem Oxalá não tinha descanso, estava sempre provocando novas situações, obrigando todo mundo a trabalhar e progredir. Onde a paz resultava em calmaria e preguiça ele provocava a discórdia e o movimento, ninguém podia se acomodar na presença de Ajagunã.
Um dia, entre uma batalha e outra, Ajagunã foi à cidade de Ogun em busca de munição. Lá chegando, viu que o povo festejava.
Tinham acabado a construção de um palácio novo, que ofereciam para o seu rei Ogun. A eles perguntou Ajagunã: "Que fazeis agora que o palácio está feito?" Responderam eles: "Descansamos de nosso feito. Festejamos". Disse Ajagunã: "Vosso rei está em guerra e tardará. Aproveitai o tempo e fazei um trabalho melhor. Um palácio mais belo e resistente, do qual ele haverá de mais se orgulhar". E tocou a parede do palácio com sua espada e o palácio ruiu. Ajagunã voltou para a guerra e quando, de outra feita, à cidade retornou, lá estava o palácio refeito, maior, mais imponente, mais bonito. Ao povo que comemorava com festas a conclusão da nova fortaleza de Ogun, perguntou Oxalá Ajagunã: "Que fazeis agora que o palácio está feito?" Responderam eles: "Descansamos do nosso feito. Festejamos". Disse Ajagunã: "Vosso rei está em guerra e tardará. Aproveitai o tempo e fazei um trabalho melhor. Um palácio mais belo e resistente, do qual ele haverá de se orgulhar". E derrubou o palácio de novo. E tantas vezes isso se repetiu que os habitantes daquela cidade se transformaram num povo de grandes construtores e sua engenharia é reconhecida até os dias de hoje. E tudo porque Ajagunã não gosta de ver ninguém parado.
OXAGUIÃ
ORIXÁ COMEDOR DE INHAME PILADO
Oxaguiã, rei de Ejigbô, o Elejigbô, chamado "Orixá-Comedor-de-inhame-pilado", inventou o pilão para saborear mais facilmente seus prediletos inhames. Todo o povo do seu reino adotou a sua preferência. Todo o povo de Ejigbô comia inhame pilado. E tanto seu comia inhame em Ejigbô que já não se dava conta de plantá-lo. E assim, grande fome se abateu sobre o, povo de Oxalá. Oxaguiã foi consultar Exú, que o mandou fazer sacrifícios e procurar o ferreiro Ogun, que naquele tempo viva nas terras de Ijexá. O que podia fazer Ogun para que o povo de Ejigbô tivesse mais inhame? - perguntou Oxaguiã. Ogun logo deu a solução: em sua forja, Ogun fez ferramentas de ferro. Fez a enxada e o enxadão, a foice e a pá, fez o ancinho, o rastelo, o arado. "Leve isso para o seu povo, Elejigbô, e o trabalho na plantação vai ser mais fácil. Vão colher muitos inhames, mais do que agora quando plantam com as mãos", disse Ogun. E assim foi feito e nunca se plantou tanto inhame e nunca se colheu tanto inhame. E a fome acabou.
O povo de Ejigbô, agradecido, ofereceu a Ogun banquetes de inhames e caracóis, feijão-preto regado com azeite-de-dendê e cebolas. Ogun disse a Oxaguiã: "Na casa de seu Pai todos se vestem de branco, por isso também assim me visto para receber as oferendas". E o povo o louvava e Ogun ficou feliz. Oxaguiã disse a Ogun: "Meu povo nunca há de se esquecer de sua dádiva." Dê-me um laço de seu abadá azul, Ogun, para eu usar com minha roupa branca. Vamos sempre nos lembrar de Ogun. E, do reino de Ejigbô até as terras de Ijexá, todos cantaram e dançaram.
Através destas três histórias que o Oráculo de Ifá nos revela para este ano podemos abstrair, entre outros recados, a necessidade de ação, de participação, de mobilização e de responsabilidade pessoal e social. O ano de 2009 traz energia para que tenhamos força de vontade e objetividade e vençamos nossas dificuldades através do trabalho, podendo realizar os nossos mais ousados projetos. Mas, lembre-se, nada se conquista sem garra e luta.
2009 é um ano de realizações! Mãos a obra!
Mais que existir, viva; mais que ajudar: sirva; mais que sonhar: realize.
6.1.09
O PODER DO AXÉ | |
Agenor Miranda. 8/Setembro/1907 17/Julho/2004+ | Agenor Miranda Rocha ou Pai Agenor, nascido em Luanda, Angola, no dia 8 de setembro de 1907, faleceu em 17 de julho de 2004 no Rio de Janeiro, Brasil. Era professor catedrático aposentado do colégio Pedro II, estudioso e adivinho do candomblé, o brasileiro que mais conheceu a herança cultural afro-brasileira. Foi iniciado aos cinco anos de idade pelas mãos de mãe Aninha, venerável Yalorixá fundadora do Axé Opô Afonjá, tradicional terreiro de Salvador, Bahia em 12 de Setembro de 1912. Profundo conhecedor dos segredos de Ifá, Professor Agenor, como também é conhecido, foi designado por sua mãe Aninha para ser aquele que jogaria os búzios sempre que fosse necessária a determinação das herdeiras do axé. |
por: Logunwá Erin Epega
Como foi que o senhor entrou para o Candomblé?
Eu acho que o Candomblé foi que me chamou. Não fui eu que entrei, não. Ele é que foi me buscar. Porque eu nasci em Luanda, Angola, e vim pequeno para Salvador. Fiquei muito doente. Os melhores médicos da atualidade, em Salvador, me desenganaram. Diziam que eu ia morrer. Uma vizinha nossa (da família) foi à casa de minha mãe Aninha. Quando ela viu no jogo e disse: "esse menino não tem doença. É o único jeito que o Orixá tem de trazê-lo para o nosso meio”. Porque a minha família era toda católica apostólica romana. Não acreditavam em Candomblé. Mas como eu estava à morte, desenganado, consentiram que eu fosse à Aninha. Quando minha mãe Aninha começou a mexer nas folhas para me dar a iniciação, eu comecei a voltar a mim. E estou até hoje. Todos já morreram e eu estou aqui! Por causa do santo! Foi o Poder do Axé!
Como o senhor define o Candomblé?
É uma festa, onde se canta, dança...Agora, esses cantos, para quem entende, são rezas e imitação dos gestos dos Orixás.
E o Orixás?
Os Orixás são um vento sagrado. E todos os Orixás estariam encantados num fragmento da natureza. Yemanjá não está encantada no mar? Oxum não está nos rios, nas cachoeiras? Xangô não está no fogo? Ogun não está no desbravamento das matas? E assim por diante... Iansã não está nos ventos? São encantados.
E como podemos rezar para estes encantados?
As danças, os gestos, são as rezas para os Orixás. Quem não reza? Quem não tem um pedido para fazer à natureza? Quanto mais não seja pede saúde, paz. Não é? Já está pedindo alguma coisa. Pedir é natural do homem.
Como o senhor vê a solidariedade no Candomblé de hoje? Como anda a ética em nossa religião?
Eu fiz santo com cinco anos, estou com 93. Então eu posso falar isso de cadeira, viu. Não havia isso não. Um se dava com o outro. Hoje o senhor é um pai-de-santo, vai fazer uma obrigação, chama um colega, por uma deferência, por amizade. O povo diz que o senhor chamou porque não soube, que o outro veio lhe dar a mão. No tempo que eu fiz não era assim, não. Todos se davam e sobretudo se respeitavam. Hoje não respeitam. Hoje é um querendo ser mais que o outro. Eu que não sou mais do que ninguém! Agora se o senhor me perguntar se em toda religião há fofoca, há. Porque no meu entender toda a religião é boa. Quem faz a religião má são os adeptos. Não há religião que mande falar mal do outro, que mande matar, que mande roubar. Não é verdade? Os adeptos é que fazem a religião má.
Professor, qual sua experiência com a fé?
Felizes daqueles que ainda têm fé no seu Orixá e no Orixá dos outros. Por que hoje isso é difícil. Só o Orixá da pessoa é que é bom. Porque tem muita gente que está no Candomblé e não tem fé. Qualquer coisinha, "cadê meu santo? Onde é que está meu santo?" Isso é não ter fé. Se eu estou na Terra..., aqui não é planeta de expiação? Como é que eu vou reclamar do meu santo? Feliz por ele me dar a resignação para passar pelo que eu estou passando. Eu tenho as pernas boas, eu estou vivo! Ainda estou vivo! (risos) Agradeço a meu Orixá. Eu tenho fé! Agora, eu não sei, tem muita gente que diz que tem fé, mas qualquer coisa que aconteça diz logo: "cadê meu santo? Eu sou do santo, eu dei comida ao meu santo ontem e ele está me dando isso?!" Eu não. Eu posso ter o que tiver que eu estou sempre colocando o meu santo acima de tudo, porque poderia ter sido pior se ele não tivesse me ajudando.
Que mudanças o senhor observa no Candomblé de hoje em relação do tempo de sua juventude?
No luxo, na vaidade, mudou. Mas o Orixá não é o mesmo? É a mesma coisa quem diz: "eu sou Keto!" E na Angola os Orixás não são os mesmos? Os nomes são diferentes, mas são os mesmos, não é? Então nós temos que respeitar a todos. A evolução permite que o candomblé hoje seja diferente do meu tempo. Eu não vou querer que o Candomblé hoje volte para chegar ao meu (do meu tempo). De dia para dia está havendo evolução. Quantas coisas novas sabemos que estão sendo descobertas?! E temos que ficar só amarrado? Não, não. Evolução é tudo, não? O Candomblé também tem que evoluir, ué!
O senhor considera-se um homem feliz?
Eu tenho tudo que acho que posso ter na terra. Desejaria muito ser perfeito, mas estou na terra, não sou. Tenho concepção de que eu não sou. (risos).
Entrevista realizada no dia 26 de março de 2001, em São Paulo.
Eduardo Logunwa Erin Epega, praticante da Tradição de Orixá (Candomblé) desde 1975, consagrado Sacerdote de Ologun-Ede em 1997 e iniciado também para os Orixás Exu e Oxum pela Iyalorixá Sandra Epega. Desde então faz atendimentos a clientes através do Oráculo de Ifá (Jogo de Búzios). É Graduado em Ciências Sociais, modalidade Antropologia, pela Unicamp, onde iniciou seu trabalho de pesquisa sobre religiões africanas no Brasil. Estuda psicologia e psicanálise. Relaciona-se com sacerdotes no Brasil e na África, com os quais mantém constante troca de informações. É membro da Comissão Estadual de Comunicações e Relações Públicas do INTECAB - Instituto Nacional da Tradição e Cultura Afro Brasileira. Atualmente desenvolve projeto de pesquisa sobre Banhos rituais e medicinais no universo religioso afro-brasileiro. e-mail: logunwa@hotmail.com